Ao mestre

Eles têm a tarefa do conhecimento

No Dia do Professor, o Diário Popular conta a história de quem escolheu a docência para a vida

Carlos Queiroz -

Por Júlia Müller e Rafaela Rosa
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(Estagiárias sob supervisão de Débora Borba)

A terça-feira (15) é o dia em que é comemorada a profissão que forma todas as outras: o Dia do Professor. Charles e Fernanda são protagonistas de histórias que inspiram e fazem parte da rotina de centenas de crianças. Na Universidade Federal de Pelotas (UFPel), são 26 opções diferentes de cursos de graduação, presenciais e a distância, para formar novos docentes.

A história de Charles Dias com a educação começou em 2004, na rua Gonçalves Chaves, antigo prédio da Escola São Francisco de Assis (Esfa). Lá, ele foi contratado para atuar na área de serviços gerais. A experiência era completamente nova. Dias nunca havia trabalhado em escola e, para completar, o desafio era ainda maior: trabalhar num local que até então só trabalhavam mulheres. O jovem de 24 anos monitorava a entrada e a saída de alunos, além de permanecer de olhos atentos durante os recreios. De acordo com ele, o carinho e a amizade sempre foram recíprocos na relação com os alunos, e até hoje esses laços permanecem. “Recebo convites de formatura e fico muito feliz”, lembra, contente.

Em 2008, o então monitor começou uma nova jornada: a graduação em Educação Física. A vontade de exercer a profissão veio pelo fácil relacionamento que sempre teve com todos os estudantes, e então, o sonho se tornou evidente: “Ser professor de Educação Física escolar”. Durante a graduação, Charles seguiu na sua função e em agosto de 2011 chegou o tão esperado diploma. Seis meses após a formatura, Dias se tornou professor de Educação Física do educandário. Já são oito anos da nova profissão e o dia a dia do profissional continua corrido. Na parte da manhã, leciona para dez turmas e à tarde volta para as raízes, onde assume a portaria e o monitoramento da escola.

As histórias de Charles e Fernanda Conceição não aconteceram nas mesmas salas de aula, mas têm em comum a vontade de fazer a diferença na educação. Fernanda foi contratada pelo munícipio como servente na Escola Municipal de Ensino Fundamental Ministro Fernando Osório, em 2000. Na época, com 21 anos, ainda era estudante do Ensino Médio. A paixão pela profissão foi motivada pelo gosto de praticar esportes e pela afinidade que teve com os pequenos durante os anos de servente. Foram quatro anos de curso e muitas dificuldades. “Diziam que eu não iria terminar, mas eu consegui”, conta. Em 2014, através de um novo certame, Fernanda retornou à Emef, agora como professora de Educação de Física.

Hoje, ela leciona para turmas desde as séries iniciais até o Educação para Jovens e Adultos (EJA). O sentimento pela profissão é de gratidão, além de relatar emocionada que não há valor que pague ouvir frases como “professora, sabia que eu te amo?”. O educandário já abriga Fernanda há quase 20 anos e relações de carinho foram formadas durante essas duas décadas. “Eles são a minha segunda casa e a minha segunda família”, destaca.

Um olhar para a educação
O desejo da dupla para todos os outros professores não é diferente. Apesar da desvalorização e da violência vista todos os dias dentro das salas de aula do país, Charles e Fernanda esperam que a classe não desanime e continue determinada a exercer a profissão diariamente. “A gente não pode abandonar”, diz ela. Em uma situação um pouco diferente, pois a Esfa é uma escola privada, Charles não enfrenta situações que para Fernanda são corriqueiras, como a precarização de materiais, a diminuição de recursos e agora os salários atrasados, mas mesmo assim ele pede que nunca falte amor e carinho para com as crianças. “É disso que eles precisam.”

Muitos calouros e poucos formandos
Ser professor é se colocar como um eterno lutador pela valorização da categoria. É assim que o diretor da Faculdade de Educação da UFPel, Rogério Würdig, descreve a profissão. Na Universidade, dos 96 cursos de graduação, 26 são de Licenciatura. Uma parcela composta por mais de 4,2 mil discentes está matriculada nesses cursos. “Hoje, estar na escola, principalmente na pública, é um desafio extraordinário”, destaca o diretor.

Os cursos têm duração de quatro anos, tempo em que cada aluno passa a entender as dificuldades da profissão que escolheram e se aproximam de escolas, onde desempenham os estágios obrigatórios. A linha é tênue: de um lado surge um mundo de possibilidades de aprender junto dos alunos dos ensinos Fundamental e Médio, enquanto de outro está uma profissão desvalorizada. “Cada vez mais para os professores universitários, os que formam outros professores, é difícil formar uma geração que siga lutando pela profissão”, acredita Würdig.
Anualmente, cerca de 960 alunos ingressam nos cursos de Licenciatura da UFPel. No último ano letivo, 294 terminaram as graduações - o que representa uma parcela de 30,4% dos ingressantes que chegam ao momento final da graduação. A difícil trajetória vivida dentro das salas de aula é uma das justificativas para a evasão dos discentes.

Cursos de Licenciatura na Universidade Federal de Pelotas

►Total de cursos na UFPel 96 (100%)

►Total de cursos de licenciatura 26 (27%)

►Alunos matriculados em cursos de graduação no ano de 2019 17.070 (100%)

►Alunos matriculados em cursos de Licenciatura no ano de 2019 4.261 (25%)

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